Oi, gente. Tudo bom?
Hoje eu vou inverter um pouco os posts. Era para eu postar este texto no sábado, em nossa coluna ETC, mas aconteceu uma coisa muito triste de segunda para terça – meu avô faleceu. Eu tive que ir de São Paulo a Rio Preto super correndo para o velório e acabei não tendo tempo de terminar minhas unhas da semana. Como eu estou com uma ideia caprichada, resolvi deixar essas unhas para o sábado e conversar um pouco com vocês hoje. Espero que não se importem 😉
Bem, revirando meus arquivos de textos, encontrei uma resenha que eu havia escrito láááá em 2008 para uma revista cultural chamada Paradoxo, acho que nem existe mais. Trata-se de meus pensamentos sobre uma coletânea de histórias da personagem Morte, criada pelo Neil Gaiman. Resolvi compartilhar com vocês este texto, pois ele não estava mais disponível por aí. Espero que gostem!
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O fim da vida, para Neil Gaiman, não é um vácuo anti-séptico e nem pode ser representado por um ente medonho vestido com uma capa pesada e carregando uma foice afiada. A Morte pode até ser essas coisas, mas não é só isso. No universo do autor, ela é personificada por uma bela garota que usa maquiagem pesada, roupas pretas e um ahnk – o símbolo da vida eterna –, adora cartolas e, acima de tudo, ama as pessoas. O primeiro ponto forte da publicação é evidente logo na primeira folheada: a arte gráfica explora cores e cenários de forma intensa, quase onírica. No final do livro, há várias projeções da Morte por artistas como Moebius e Dave McKean.
A Morte, por Moebius
Essa coletânea reúne as histórias em que a personagem carismática é a protagonista. A irmã mais velha dos Sete Perpétuos – família completada por Sonho, Desejo, Desespero, Destino, Delírio e Destruição, todos personificados por Gaiman – apareceu pela primeira vez em 1990 no Sandman nº 8 (série protagonizada por Sonho, também chamado de Morpheus). Desde então, ela ganhou muitos admiradores, atraídos por sua tranqüilidade, seu bom coração e seu talento em dissipar qualquer medo do final da vida que boa parte dos seres humanos sentem.
A primeira história, Morte, o alto preço da vida, é introduzida por um texto da cantora Tori Amos – admiradora de Neil Gaiman –, para quem a Morte é a amiga que só aparece em momentos difíceis. E é justamente o que a garota faz nessa primeira história. A cada cem anos, movida por uma curiosidade quase sociológica, ela passa um dia entre os vivos. Nesse dia, ela não realiza grandes feitos, não exibe poderes e sequer procura esconder sua identidade. Em vez disso, faz amizade com um adolescente que quer se suicidar, come cachorro-quente, usa um smile em seu paletó, assiste a um show e promete salvar o coração de uma mendiga de 250 anos. Tudo isso com um imenso sorriso no rosto. De uma forma curiosa, todos gostam da Morte e se sentem realmente próximos dela logo nas primeiras palavras. “Eu conheço todo mundo muito bem”, ela diz. Ao final dessas 24 horas, a Morte deixa a Vida de forma intensa, mas tranqüila, literalmente jogando-se de braços abertos.
A última história, “Morte, o grande momento da vida”, é introduzida pela atriz Claire Danes: “A Morte tem corpo de modelo, roupa de poeta e o sorriso de sua melhor amiga. (…) Ela não está aqui para castigar nem para nos matar, mas sim para nos ajudar a descobrir como viver antes de precisarmos partir”. Aqui, ela aparece como a amiga que ouve e compreende. Faz seu trabalho, mas não tem regras rígidas. Mais do que pôr em jogo as bases do casal formado pela cantora Foxglove e pela ex-chef Hazel, ela as ensina a seguir em frente e mostra que nem todos os problemas são tão relevantes quanto parecem. Afinal, o fim nem sempre precisa ser acompanhado de mau-humor.
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